sexta-feira, 20 de setembro de 2013

NATUREZA, 50% DE DESCONTO, A VISTA


Curto prazo, uma praga daninha. Pescamos com malha fina, cobramos caro do turista, plantamos com pouca fertilização, uma cultura que não investe no longo prazo. Uma abundância relativa, falsa, permite fingirmos que não é conosco. Vamos levando, qualquer problema,  liquidamos.

Aceitamos e criamos regras de ocupação que caracterizam a cultura da entressafra, fazemos qualquer negócio por não acreditar no futuro. E ignoramos o valor maior que temos, a natureza. Vendemos e compramos terrenos com posse, fatiamos antigas áreas em tripas, abrimos estrada lomba acima, definimos lotes com tamanho legal mas incompatível com a topografia, costruimos casas que parecem pedir mais espaço...elas rezam para não construírem ao lado. E por aí vai.

O valor de Garopaba reside na manutenção e resgate de suas características culturais e históricas. Precisamos valorizar a arquitetura colonial, a Igreja e o Centro Histórico. Precisamos valorizar e resgatar o saber-fazer rural, da manutenção das lavouras ao transporte de carro de boi, da confecção de artesanato e indústria caseira. Precisamos estimular o turismo alternativo, de observação, fotográfico, trilhas e rotas. Precisamos de um comércio que se reinvente, busque produtos que se identifiquem com Garopaba. Precisamos de uma gastronomia idem. E de eventos igualmente identificados com esta marca, Garopaba.

COMPETIÇÃO DE CANOAS EXECUTADAS DE UM SÓ PAU DE ÁRVORE
 simboliza um trabalho coletivo que resgata e valoriza 
o saber-fazer local. Isto é paisagem natural, isto não tem preço


Mas não, o que assistimos é uma negação à esta essência. Copiamos modelos de fora, ignoramos nosso valor. A auto-estima de uma cultura, de uma comunidade, é o alicerce de qualquer crescimento. Sem sabermos o quanto valemos, o que temos de diferente e superior, não acertaremos o caminho. Esta degradação geral na paisagem urbana, na cultura, passa despercebida para muitas pessoas, pelos que vem de fora, ou a veem pela primeira vez.

É a natureza, os morros ainda prerservados, a orla, os banhados, as lagoas que seguram as pontas, que douram a pílula. Empurrando com a barriga, fingindo que não vemos, vamos tocando. Dê-lhe degradação. Só que começou de forma bem clara a ocupação das áreas que nos embriagavam...Morros, banhados, mata, beira dos mananciais, intensa atividade de transação imobiliária. E projetos. Breve, obras. E, de repente, a realidade, talha o leite. Vira o fio. E aí, não tem volta.

Não sou pessimista, como pode parecer esta coluna. Ao contrário, sou otimista. Temos hoje muita informação, é fácil comprovar o que identifico e alerto. Só precisaremos agir, mudar regras, mesmo que algumas possam prejudicar individualmente alguém. Planos Diretores são a ferramenta para regrar e planejar o desenvolvimento de uma comunidade, mas precisam ser pensados de forma ampla.

Se não fizermos isto logo, corremos o risco de perder o lastro, esta paisagem que tem segurado a onda, mas vem se degradando, um dia talha...

E aí será tarde, seremos rebaixados, concorreremos com outras cidades pela atratividade, pela beleza.

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